Aglaci era uma moça discreta e apaixonada por Elvis, um popular surfista. Entre encontros e desencontros, acabaram juntos. Mas, as sequelas de um grave acidente colocou à prova o real amor dos dois
“Conhecia o Elvis de vista. Estudava à noite no Santa Catarina e ele sempre ia lá na frente, no ‘point'”, inicia a empregada doméstica Aglaci de Jesus Silva, de 49 anos, a história que começou ainda no final dos anos 80, em São Francisco do Sul. Ela, uma moça tímida e discreta, era apaixonada pelo surfista comprometido, Elvis Eli Paim, hoje com 51 anos. Como aquelas velhas histórias de filmes da tarde, onde a doce menina cultiva uma paixão secreta pelo garoto popular, Aglaci estava decidida que ele seria seu marido um dia.
Após Elvis terminar o namoro, a jovem Aglaci viu, mesmo envergonhada, a oportunidade de uma aproximação. Em uma festa no então salão Vitória deram o primeiro beijo, mas, após, seguiram suas vidas como se nada tivesse acontecido.
Elvis conta que, pela dificuldade de encontrar emprego no município, foi morar na Bahia. Tempo depois, acabou retornando. Ao descer do ônibus, após chegar na rodoviária, alguém por coincidência o observava do outro lado da rua.
“A primeira pessoa que eu vi foi ela”, conta Elvis, que ficou feliz com a presença dela, mesmo que, segundo ele, acabou virando a cara, “pois ele não havia dado notícias”, complementou Aglaci.
Tempos depois, o jovem Elvis descobriu que as oportunidades de emprego pouco cresceram em São Francisco do Sul desde a primeira partida. E por esse motivo, retornou à Bahia para mais uma temporada. Quando decidiu voltar para cidade natal, seguiu o mesmo rito: esperou o ônibus estacionar na rodoviária e desceu. Quem estava novamente, por coincidência, do outro lado da rua?
“Como se estivesse esperando ele voltar, eu, novamente. Foi destino, mesmo”, diz Aglaci que, como da primeira vez, fingiu que não se importou com o retorno do antigo amor.

Mas Elvis estava instigado. Perseverante, a procurou para a definição de suas vidas. Depois do “sim” de Aglaci, nunca mais se separaram. Com oito meses de relacionamento, descobriram que teriam uma filha. Como Elvis havia se tornado caminhoneiro, a pequena família fez diversas viagens pela América do Sul.
A prova de amor
Era aniversário de 36 anos de Elvis: 14 junho de 2004. Para celebrar a ocasião, a família preparou um festa surpresa, mas ele viajou naquele mesmo dia, deixando o bolo pronto para trás e todos os parabéns.
Elvis fazia sua viagem a São Paulo, na Rodovia do Azeite (BR 116 Regis Bittencourt), quando viu o acidente que envolveu um amigo. Ao parar para ajudá-lo, foi atropelado.
“De madrugada, eu fui acordada com batidas na porta. Quando atendi, era uma conhecida nossa avisando que meu esposo tinha se acidentado, mas, que, a princípio, tinha quebrado uma perna. Fiquei desesperada, mas feliz, aliviada por ter quebrado apenas a perna”, conta a esposa. Em Curitiba, para onde Elvis havia sido transferido, Aglaci percebeu o real estado de seu marido.
“Me deparei com uma situação de que não era uma perna quebrada. Meu esposo estava deficiente, ele não ia conseguir andar”, lembra.
Com o atropelamento, Elvis lesionou a coluna e ficou paraplégico. “Confesso que, quando ouvi essa palavra, fiquei sem reação, pois não sabia o que ia ser das nossas vidas”, conta Aglaci.
Elvis foi transferido para um hospital de Joinville e submetido a uma cirurgia de oito horas. Ao receber a notícia de seu diagnóstico, o motorista se despedaçou, mas o companheirismo de Aglaci o ajudou a reagir.
“Minha esposa não me abandonou; se não fosse ela do meu lado, difícil até de explicar”, afirma.
Ao retornar para casa, o casal encontrou uma nova realidade. Móveis foram se ajeitando para dar espaço à cadeira de rodas, equipamentos para banho e higienização a cadeirantes ocuparam o lar. As dificuldades foram chegando com a falta de renda do patriarca e as dívidas cresceram. Esse foi o momento em que Aglaci decidiu reerguer-se por amor ao seu par, começando a trabalhar como doméstica. “Eu decidi que ele ia ser meu marido, é o que Deus me deu. Queria dormir e amanhecer ao lado dele”, diz reafirmando que ainda diria sim a ele, mesmo se soubesse de tudo o que aconteceria.

“Nunca pensei em abandoná-lo”.
Aglaci iniciou sua missão como provedora da família. Todos os dias, trabalhava para manter as contas em dia. Quando chegava em casa, mesmo cansada, dedicava-se aos cuidados do marido e da filha.
“Muitas vezes, peguei ele no colo”, revela.
Com o tempo, Elvis aprendeu a se adaptar com sua realidade e se aposentou. Atualmente, comemorando 29 anos de casados, os dois ainda estão apaixonados e animam-se com o crescimento da família, com a filha, hoje com 28, e a neta de 10 anos.

A rotina ainda é a mesma, só o amor da moça tímida e do surfista que, agora, é ainda maior. “Ele é o alicerce da minha casa, quando volto pra casa e ele está me esperando, isso basta”, encerra Aglaci.