Miriam era uma mulher de sorrisos, o seu cartão de visitas para qualquer pessoa que tivesse a oportunidade de encontrá-la, de conhecê-la. Com traços orientais, sua felicidade subia os lábios e curvava os olhos, expressando uma doçura que deixava qualquer dia triste garuvense um pouco mais leve. Sua gargalhada era típica, e não poupava-a durante conversas sobre grandes amores: os filhos e as flores.
As vestes eram simples, reflexo de uma vida simples e honesta. As flores que cultivava tinham mais graça que de outros jardins, pois exalavam cores e ternura de sua predecessora. A paz que compartilhava fez-se tantas vezes necessária ao redor de nossos desalentos. Uma pessoa em que a violência é impensável aproximar-se dela. Mas se aproximou e a tocou, da maneira mais brutal, covarde e desumana.

O assassinato de Miriam, uma mulher trabalhadora e mãe de três pequenos, alvejada sem possibilidade de defesa na porta de seu trabalho, rasga uma brecha sem precedentes sobre o risco que nós, que muitas vezes não fazemos questão de sermos cordiais, estamos expostos e ter.
É uma vulnerabilidade pavorosa chegar a conclusão de que nem os bondosos podem mais usufruir da paz que tanto cultivaram ao longo de uma vida usurpada. O que será de nós e de outras Mirians. O que será dos filhos que tiveram a mãe retirada deles, e de tantos outros que ainda aguardar a sentença final dos seus algozes.
Miriam merecia, hoje, voltar para casa, tomar um café e descansar após mais um longo dia de trabalho. Miriam merecia sentir o cheiro dos filhos e de outras flores que ainda irão desabrochar, agora, em sua ausência. Miriam merecia viver em uma sociedade onde os bons escolhem a forma mais serena para partir.
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Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc
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